As conversas sobre trabalho híbrido continuam “quentes”. Mas o tema deveria ser outro!
Enquanto encontramos de tudo um pouco – empresas voltando para os escritórios, testes de diferentes modelos híbridos e empresas abrindo mão de seus espaços físicos – lidamos com líderes buscando justificativas para dificuldades em alcançar engajamento e produtividade.
A experiência para qual fomos empurrados mostrou que é possível entregar bons resultados com um modelo de gestão mais flexível e horizontal.
E esta experiência mudou tudo!
Os processos foram adaptados. Os colaboradores ficaram confiantes de que podem entregar sem os olhos dos gestores controlando seus passos. E os líderes viveram o desafio de se adaptar constantemente.
E é esta mudança que chega às rodas de conversa, dividindo opiniões e atribuindo a fatores diversos a responsabilidade pelo esgotamento e pelo estresse das equipes impactando objetivos.
Mas um olhar mais atento e uma escuta mais profunda permite observar que a confiança está no centro e é a chave para destravar este impasse.
Falar de trabalho híbrido é falar de confiança. É buscar equilíbrio e adaptabilidade. É seguir aprendendo com o que não funciona e o que traz resultado. É oferecer qualidade de vida e saúde mental.
A confiança precisa ser (re)instalada em suas diferentes formas: autoconfiança, confiança dada e confiança recebida, para que um ciclo virtuoso passe a guiar as escolhas e ações nos diferentes âmbitos das empresas.
As empresas buscam um ambiente de trabalho extraordinário com equipes de alta performance, capazes de resultados excepcionais nos mais variados contextos. E para isso precisam oferecer para as pessoas competência, autonomia e relacionamento.
E o desenvolvimento de competência, que vem de um esforço mais individual, requer autoconfiança para ser consolidado. A consolidação se dá pela prática.
E, em um ambiente complexo, praticar significa dar passos sem ver todas as comprovações; reconhecer e aceitar o que emerge, lidando com os diferentes sentimentos e emoções que são provocados; e, atuar com foco, se mantendo firme em uma direção entendendo que sem as ações concretas no presente não se desenha o futuro.
Já a autonomia e relacionamento, dependem da qualidade das interações.
A autonomia por diferentes perspectivas nos mostra a importância da confiança dada e recebida.
Quando se dá autonomia falamos de delegação. A delegação trata principalmente de saber administrar a confiança. Requer um senso de propósito e clareza de papeis e responsabilidades. Mas, se algo muda, ou dá errado, o caminho não é a punição e a crítica, mas o feedback, a escuta e o aprendizado rápido.
Ao dar confiança é preciso compreender a necessidade do outro, reconhecer suas qualidades e considerar suas contribuições.
Para quem recebe autonomia falamos de coerência, ser honesto e genuíno consigo mesmo respeitando suas regras e valores; falamos de responsabilização que implica em assumir a responsabilidade pelas consequências de seus atos e compromissos; e, aprendizagem que é se dar o direito de errar e ter iniciativa para adquirir novos conhecimentos.
Todas dimensões da confiança.
Confiança recebida que reforça autoconfiança e que abre espaço para dar confiança!
O relacionamento, que requer mais esforço para ser sustentado em trabalho híbrido, tem como base a própria confiança. O que nos aproxima ou afasta de algo ou alguém. É através dela que são criados os vínculos. A confiança é uma chave da interação humana, se um dos lados não confia, no outro haverá ruído de comunicação.
Se relacionar é viver interações onde julgamentos, culpas e ressentimentos não têm espaço; é poder se expressar e mostrar-se como se é; e, em um contexto complexo, ter uma visão compartilhada que favorece o coletivo em direção ao mesmo objetivo.
Artigo originalmente publicado em Estadão Digital e republicado com permissão da autora.